O que vejo pelo mundo

Minha idéia sobre este espaço é escrever sobre minha visão, meu entendimento a respeito das coisas que estão aí pelo mundo. Será um belo exercício de organização, pois sempre acabo esquecendo de registrar alguma coisa interessante que me valeu uma reflexão. Espero que compartilhem comigo dos escritos que nascerão aqui: concordem, discordem, reflitam, reconsiderem ... só espero que não ignorem por completo!

sexta-feira, fevereiro 23, 2007

Amigos especiais

Sempre fui fã dos meus animais. Eles vivem me ensinando melhores maneiras de viver a vida. Eles nos seduzem se deixando seduzir. Mostram sua força na imensa fragilidade que possuem. Indepedência na dependência que têm. Qual a melhor forma de fazer um bichinho feliz? Tenho esta preocupação. Eles não sabem falar a nossa língua. Como saber, então, se estão felizes? Se se sentem satisfeitos com o lar onde estão?
Neste momento meus filhotes dormem, serenos... ge
ralmente correm a casa inteira, brincam... mas agora estão dormindo. Hoje está mesmo um dia preguiçoso, chuvoso, introspectivo. E assim, dormindo, parecem ainda mais frágeis.
Fico imaginando: por que será que sou tão feliz ao lado deles? Mesmo com todas as limitações que eles têm, eu os amo e eles sabem demonstrar seu amor por mim. Eles sabem conquistar seus donos! No fundo, eles são meus donos, isso sim. Por que vale a pena dedicar amor a estas vidas? Eles não vão ajudar a pagar nossas contas? Ah! Aí é onde mora o trunfo dessas delicadas vidas. Eles não vão nos amar menos se a nossa conta bancária não tiver mais. Eles são amigos incondicionais!
Como é maravilhoso chegar em casa e ver um a
migo derrubá-la pra te receber. Estar em um cômodo da casa e, de repente, ver ele cheio, repleto, com todos os seus amigos. Eles vêm, nos procuram, nos acham e ficam por perto. Cada um tem uma personalidade tão marcante, tão especial, tão única! Um é mais assustado, outro parece não ter medo de nada.
O Félix, por exemplo, é um gatinho muito independente. Quando eu não havia entendido ainda que as ruas não são um lugar seguro para ele, ele podia sair à vontade. Ultimamente ele está somente em casa, protegido. Sabe como ele me retribui? Me chamando para lanchar com ele. Verdade! Sempre que ele está com fome, me chama para acompanhá-lo até seu comedouro. Ele sabe chegar lá sozinho
, mas prefere minha companhia! E escolheu um cantinho alto do meu quarto para dormir. Fica de lá velando meu sono.
O Frajola, meu bebê-gatinho, de apenas cinco meses, chegou aqui em casa tão pequenino. Ainda não tinha dentes. Demos mamadeira pra ele conseguir sobreviver. Quando tomava leite, mexia as orelhas, uma graça. Quando a gente acorda ele nos acompanha até o banheiro. Faz carinho no pé da gente enquanto nos preparamos pro banho. E parece que tem uma maquininha de fazer rom-rom, tão alto que é. Quando alguém entra no box ele fica na parte de fora, esperando a gente sair pra acompanhar na saída também.
O Luke, meu poodle+cocker mais vira-latas do
mundo, é um garotão de quase três anos. Também chegou bebê aqui em casa, com menos de um mês. Andava de lado, tombava nas coisas, mordia tudo e todos. Aprendeu a fazer uma porção de gracinhas só pra ganhar petiscos. Quando chega qualquer pessoa da estima dele, corre para pegar sua bolinha e convida-a para brincar. Ah, ele odeia tomar banho. O-de-ia. Em compensação, se pegar sua coleira, fica maluco. Adora dar uma voltinha.
Bobby é um cãozinho ancião. Tem treze anos. Era o cachorrinho da minha avó. Ela se foi e me deixou ele como herança. Velhinho com alma de filhote. Chora quando quer comer, não é bobo nem nada. Tem o olhar sábio que a idade o confere. É terno, não tem mais a euforia dos mais novos. Mas, nem de longe, é um cãozin
ho triste. Ao contrário.
Eles se dão muito bem, os quatro. Um faz companhia ao outro. Outra lição: mesmo tendo um jeito de viver diferente do outro, com pontos de vista diferentes e com objetivos diferentes, podemos conviver com o outro, trocar experiências, ser felizes juntos.
Fico pensando no dia que eles partirem. Não, não faço disso uma obsessão, não penso nisso o tempo todo. A gente imagina e sofre, só isso. No entanto, uma coisa é certa, aprendi com uma amiga. A dor da perda desses amigos, quando ocorrer, será certamente superada pela alegria, serenidade, aprendizagem, companherismo, despreendimento e tudo o mais que eles, de forma forte sem ser pretenciosa, me ensinaram e me ensinarão a viver.


quinta-feira, fevereiro 22, 2007

Sobre balas de açúcar e a vida

Quando ainda era pequena, Catarine tinha um programa perfeito para as tardes mais frias. Bastava sua mãe sair. Ela e seu irmão corriam para a cozinha e preparavam deliciosas balas de açúcar. Eles sabiam que a consequência disso era, quase sempre, os dedos das mãos queimados; além disso era bastante provável que ganhassem o desagrado da mãe, caso ela descobrisse as aventuras gastronômicas dos dois.
Passou a mão em seu ventre e pensou: "será que você também aproveitará as minhas saídas para fazer coisas gostosas?" Sorriu. Estava serena, calma. Pelo menos agora. Já havia pensado muito sobre tudo o que aconteceu com ela nos últimos anos. Este fruto, a princípio, parecia lhe trazer tormentas - apenas. No entanto, começava a vê-lo com outros olhos.
Foi até a cozinha, pegou a panela pequena. Seu corpo estava ali, seu pensamento, não. Como havia conseguido transpor tantos momentos difíceis? As vezes precisava fingir. Fingir que não se importava, fingir que não era com ela, fingir que não estava sofrendo.
Pegou o pote de açúcar, destampou. Como poderia imaginar, naquele tempo do docinho de açúcar, que tudo aquilo aconteceria com sua mãe? Não poderia! Tão fascinante a mente humana. Indavassável. Era impossível entender como a mente dela deixou de ser sã.
Agora, chovia forte lá fora. Dia perfeito para relembrar seus doces.
Despejou quase todo o conteúdo do pote na panela, sem prestar muita atenção. Devolveu a parte que não era necessária. "Ah, ela não tem culpa de ter ficado assim. Mas tem culpa por não querer mudar a situação. Está nas mãos dela. Foi para isto que a levamos para aquele lugar. Mas agora ela volta, pior do que quando foi? Não tomou nem um comprimido?" Mas não sentiu raiva.
Acendeu o fogo. Pegou uma colher de pau. Passou a mexer o açúcar naquela minúscula panela. Levou novamente a mão à barriga. "Em breve não moraremos mais aqui". Não daria para aquele pequeno ser dividir o espaço com alguém que não quer abrir mão de seus espaços. Todo mundo quer ser feliz. Como responsável por
aquela vida ainda sem vontade própria, precisava buscar a felicidade para ele. Ele ainda não sabia, mas queira, desejava, ansiava ser feliz. E ela também. Por isso mudariam, em breve, para outro lugar.
Ainda divagando em seus pensamentos, mexia o açúcar na panela, que já havia mudado de cor. Agora estava da cor de caramelo. Sem perceber, acabou deixando que a panela extravasasse um pouco do seu conteúdo. Voltou a pisar no chão no momento que sentiu a mão queimar, como na infância. Lá fora ainda chovia, forte. Desligou o fogo e tomou a mesma providência que tomava em sua idade puerícia: pegou um copo com água gelada e mergulhou dentro os dedos machucados. Lembrou-se que, naquele tempo, costumava usar uma mão para saborear sua iguaria enquanto a outra, ainda ardida, ficava mergulhada no copo com água. O sabor do doce não era, nem de longe, diminuído pela dor que sentia.
"Apesar de tudo, bebê, vamos ser muito felizes ainda. Você vai ver." Seguiu até a janela, colher numa mão, copo com água gelada na outra. Queria apreciar o cair da chuva naquele fim de tarde.





Leia sobre o caramelo: http://pt.wikipedia.org/wiki/Caramelo

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Nara

Mais um conto a quatro mãos!!! Este foi iniciado por mim (parte azul) e concluído por Vanessa (parte verde). É um exercício maravilhoso de abstração escrever a continuação de um texto que não foi iniciado por vc. Imaginar o rumo que o criador da personagem pensou pra ela... e mudar tudo! Van, adorei a experiência. Vamos criar mais personagem e logo logo escreveremos um livro.

Nara não tinha a vida que pediu a Deus. Longe disso, sonhava com o momento no qual encontraria a felicidade. Mas isso não seria tarefa fácil. Agora, então, seria ainda mais difícil. Ela não se reconhecia, não entendia porque havia agido daquela forma. Poderia ter pedido ajuda, procurado a sua tia. Fazia tempo que não a encontrava. Desde quando completou dezesseis anos e decidiu sair de casa. Não suportava mais ser maltratada, nem vê-la sendo espancada pelo marido. A casa ficava mais calma quando ele passava alguns dias sumido, mas sempre acabava voltando e ainda mais violento. Uma dessas vezes Tonho sumiu por quase dois meses. Terezinha, tia de Nara, até tentou arrumar trabalho na época. Mas o marido voltou e as mantiveram presas por vários dias sem sair de casa, até ter certeza que ela mudara de idéia. Ficou com a tia porque não havia mais ninguém. Sua mãe a abandonou quando ainda usava chupetas. O pai... bem, este ela jamais conheceu. Não tinha raiva dos pais. Também não os amava. Aliás, na verdade não tinha nenhum tipo de sentimento por eles. Eles eram como estranhos, apenas isso. Tomou mais uma dose da cachaça que havia sobrado. Precisava de coragem. Por acaso alguém entenderia que ela havia agido por amor? Não que ela morresse de amores por Dan. Ela morria de amores era por ela mesma. Ela estava em primeiro lugar na sua lista de prioridades. Mas agora que tudo aconteceu, ela precisava buscar uma solução. Ouvia vozes e risadas vindas de fora da cabine do banheiro onde estava. Eram de duas mulheres dando palpite uma na roupa da outra. Nara começou a prestar atenção na conversa lá fora, até pra distrair sua mente, como se fosse possível esquecer. Enquanto escutava, tomava mais goles da cachaça. Sentada na tampa da privada, tinha aos seus pés quatro sacos plásticos com o que achou necessário no momento. Descansou a garrafa no chão e pôs as duas mãos sobre os olhos. Precisava parar de ficar relembrando o acontecido e começar a agir. Sem desespero! Dan, que havia sido seu porto seguro, agora precisava dela. Nara se sentia responsável pela situação que Dan estava metido. Não havia tomado cuidado para que Tiago não desconfiasse de suas supostas visitas a salões e amigas desconhecidas. Ela se sentia muito segura em ir encontrar Dan na hora que eles bem desejassem. Percebeu que não lamentava o acontecido com Tiago, como se ele fosse um desconhecido. As lágrimas que banharam seu rosto eram por sua causa e de Dan. Mas estas desceram silenciosamente. “Isto deve ser um pesadelo! Oh Senhor, me acorde desse pesadelo!” Orava mentalmente. Ao retirar as mãos sobre os olhos, mirou a aliança dourada em sua mão esquerda. Nela, um N e um T se entrelaçavam. Ficou olhando a aliança longamente como se a visse pela primeira vez. Já fazia nove anos que havia entrado naquele bar com o firme propósito de ficar com o primeiro cara que lhe desse bola e nunca mais vê-lo. Queria se vingar de Dan, seu namorado há três anos, por ele ter viajado sem ela pra Porto Seguro em pleno carnaval. Seguramente não havia a convidado pra poder ficar com várias garotas. Se ele pode, eu também posso, pensou. Ao ver aquele rapaz franzino, de olhos verdes e bem vestido, nunca imaginaria que dois anos depois estaria se casando com ele. Nara nunca foi apaixonada por Tiago, mas esse deu a ela coisas que ela nunca havia tido: um lar, uma vida confortável e principalmente, a certeza que era amada. Pela primeira vez, Nara teve uma pessoa que fazia todas as suas vontades. Porém, há dois anos, na saída de um shopping pegou um táxi e pra sua surpresa o motorista era Dan. Ao vê-lo, de novo Nara teve sensações que julgavam esquecidas: as mãos suando, uma sensação no estômago como se estivesse repleto de borboletas, o tremor nas pernas... Foi impossível resistir aos pedidos dele de voltarem a se encontrar.
No inicio, tentaram s
er discretos e encontravam-se uma vez por semana ou a cada duas semanas. Nessas ocasiões, um táxi parava na frente de uma casa de portões altos e Nara sentava no banco da frente do carona. Esse mesmo táxi deixava-a em casa às 17h20min aproximadamente, ou seja, cerca de 40 minutos antes de Tiago voltar pra casa. Porém esses encontros passaram a ser mais freqüentes e por várias vezes quando Nara chegava em casa, Tiago já havia voltado. Para disfarçar, alegou que o fim da tarde era o único horário disponível de sua manicure predileta, tendo que ir ao salão pela manhã pra sustentar sua mentira. Porém, como não podia sempre alegar essa desculpa, inventou visitas a amigas, a igreja e até um curso de inglês que foi seu álibi até Tiago se interessar em fazer curso no mesmo local que ela. O fato de Tiago fazer periódicas viagens a trabalho facilitava seus encontros com Dan. Apesar de Tiago fazer cada vez mais perguntas sobre as saídas dela, Nara estava confiante que ele nunca descobriria que não se preocupava de repetir desculpas, se contradizer e por vezes ser pega na mentira por Tiago. Por isso sua surpresa ao ouvir durante o banho, apos o som da buzina da casa de Dan, as vozes do dono da casa e Tiago discutindo e depois o barulho de objetos caindo e do que pareciam serem uma briga corporal. Tiago havia saído naquela manhã dizendo que ia precisar viajar a São Paulo pra umas reuniões e só voltaria dali quatro dias. Nara entrou em pânico! Vestiu-se apressadamente e ficou do banheiro ouvindo o que acontecia, sem saber o que fazia. Nunca havia sentido tanto pavor em sua vida! Percorreu inúmeras vezes os poucos metros do banheiro. Pensou em tentar quebrar o basculante, sair do ele e fugir. De repente um profundo grito que silenciou todos os outros barulhos da casa e que foi diminuindo de volume. Resolveu enfrentar a situação e saiu do banheiro. Na cozinha encontrou a cena mais terrível que havia visto na vida: Tiago caído no chão, segurando ainda a camisa de Dan e este segurando o cabo da faca de destrinchar galinha enterrada na barriga de Tiago. Percebeu que aquele não havia sido o único corte feito por Dan. Finalmente Tiago soltou a camisa de Dan e este se jogou pra trás. Mas uma vez, em menos de duas horas, Nara estava num banheiro sem saber o que fazer. Quem poderia perdoar o que ela fez? Quem entenderia suas razões? Resolveu definitivamente não procurar a tia, afinal esta já havia tido problemas demais na sua vida. Percebeu que apesar de saber que Dan tinha mãe e avó vivas, nunca havia conhecidos elas e nem sabia onde moravam. Não havia uma amigas ou amigos a quem poderia pedir ajuda. Ela estava sozinha! Ou melhor, ela agora só tinha Dan! Precisava fugir pra livrá-lo da culpa que na verdade era dela. Quando Nara retornou ao carro, Dan continuava adormecido no banco do carona e tinha um filete de sangue que descia desde a sua testa passando pelo rosto e descendo pelo torso que se mostrava pela camisa rasgada. Felizmente Nara havia encontrado aquele supermercado 24 horas. Tinha estacionado no fundo do estacionamento coberto e trocado suas roupas por outras que não estivessem sujas de sangue, ainda no banco do motorista. Dificilmente as 2 da madrugada alguém iria ver Dan no carro, mas mesmo que visse, o vidro fumê impediria que vissem o sangue. Apesar de ter bebido uma garrafa de cachaça, nunca se sentiu tão lúcida! É a adrenalina que não me deixa ficar bêbada, pensou. Sentou-se no banco do motorista e pôs as quatro sacolas plásticas no centro do banco traseiro, de modo que pudesse manusear os seus conteúdos. Ao mirar de novo o rosto de Dan, novamente lhe veio a mente a cena de Tiago de olhos arregalados e boca escancarada num grito, com a faca enterrada até o cabo em sua barriga de onde saia uma profusão de sangue. Não sabe como teve coragem e força para retirar a faca. Foi o instinto de sobrevivência que a fez retirar a faca da barriga de Tiago, tomando o cuidado de antes enrolar uma toalha de visitas que achou no banheiro, para que suas digitais não ficassem impressas no cabo. Foi esse mesmo instinto que a fez revistar os bolsos da calça de Tiago atrás de dinheiro e das chaves do carro, enquanto este tentava numa última tentativa de sobrevivência tentava puxa-la em um pedido de socorro. Entretanto, se desvencilhou de Tiago, foi ao quarto pegou a sacola com suas roupas e com muito esforço ajudou Dan a entrar no carro. A faca foi colocada no porta-malas. Agradeceu por Dan morar alguns metros distante dos vizinhos. Porém, certamente devem ter ouvido a briga e logo a polícia apareceria. Ela precisava fugir com Dan pra longe dali! Respirou fundo. Retirou de uma das sacolas o pote de lenços umedecidos. Retirou um lenço e começou aos poucos a limpar o rosto de Dan, usando como lixo a sacola plástica onde estava o pote. Quando passou o lenço por cima do grande corte que havia na testa, Dan soltou um profundo gemido. - Schhhhhhhhhhhhhhh! Calma, Dan! Eu estou aqui ao seu lado. Com cuidado limpou Dan da melhor forma possível, gastando todo o pote de lenços umedecidos. Nos ferimentos passou merthiolate e cobriu com band-aid ou curativos de gaze e esparadrapo, de acordo com o tamanho. Ajudou-o a trocar a camisa e a calça por outra que havia acabado de comprar. Enquanto fazia isso, um pensamento lhe atravessou a mente pra sua inquietação: assim como sua tia Terezinha era cativa de Tonho, ela estava presa a Dan. Guardou o restante do material comprado, antes oferecendo as comidas e bebidas que havia comprado à Dan. Deu partida no carro às 4 hs da manhã sem saber pra onde iria e sem perceber que dirigia em zig-zag
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